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"A ‘economia’ no final é a nossa relação material uns com os outros e com o restante do mundo vivo. Queremos que essa relação seja baseada em extração e exploração? Ou queremos que ela se baseie em reciprocidade e cuidado?"
"É notável que usemos a palavra ‘economia’ para descrever um sistema organizado em volta da geração perpétua de crescentes níveis de consumo e excessos extremos para os ricos. Não há nada de ‘econômico’ nisso." Jason Hickel
(o significado da palavra "economia", segundo sua etimologia, é algo como "cuidados com o local onde vivemos")
Como mudou no Brasil a percepção da mídia — responsável por pautar a opinião pública — em relação ao meio ambiente, diante da pandemia (que não deixa de ser uma crise ambiental) e dos atuais desastres climáticos e ecológicos?
Vemos cada vez mais empresas anunciando estratégias supostamente sustentáveis. Pouco mais que isso. Conseguiram até anunciar o último iPhone como algo que reduz a emissão de carbono! (sobre as consequências ambientais de nossos eletrônicos, assista o documentário "O custo do vício digital")
O debate sobre um novo tipo de economia começa a se insinuar, mas a velha história sobre crescer o PIB (Produto Interno Bruto) a qualquer custo continua. Esse é um ponto central quando se discute o colapso ambiental, pois não há como continuar crescendo sempre, sem consequências desastrosas para o meio ambiente.
Desenvolvimentistas então defendem a ideia de uma economia "desmaterializada", focada em serviços, assim como a do "crescimento verde" ou sustentável, sem impacto ambiental negativo. Mas isso já foi provado como uma ficção.
Essa tese se apoiava no fato de que os países mais ricos vêm mostrando crescimento econômico com redução do impacto ambiental nos últimos anos. O erro foi não considerar a terceirização massiva da produção industrial para países mais pobres. Quando isso é levado em conta, a degradação ambiental vem crescendo em proporção maior até que a economia dos países.
Leia a Circular em sua caixa de entrada:
Não está havendo substituição
Uma outra questão demonstra como o dogma do crescimento econômico é um elemento central do colapso ambiental: por que o crescente uso de energia renovável no planeta não está se revertendo em menos emissões de gases do aquecimento?
Porque a demanda por energia está crescendo exponencialmente junto com o aumento da produção industrial. A energia renovável não está substituindo os combustíveis fósseis, mas sim se somando à matriz energética.
É por isso que um recente relatório da Agência Internacional de Energia apontou que a transição para fontes renováveis de energia no planeta vai dar conta de apenas 1/3 da meta de zerar as emissões de gases do efeito estufa. O restante será emitido pelo aumento na produção previsto para que as economias continuem crescendo e pela própria produção de materiais na indústria renovável.
É por isso também que empresas como ExxonMobil ou produtoras de gás (inclusive no Brasil), em vez de reduzirem emissões de gases do aquecimento, planejam aumentá-las nos próximos anos.
Tecnologias de sequestro de carbono, ao contrário do que se anuncia, ainda não são escaláveis na dimensão necessária. E criam um novo problema: dar carta branca para se continuar emitindo gases do aquecimento, afinal seria possível retirar depois isso. Então é natural que essa seja a solução defendida pela indústria, particularmente a dos combustíveis fósseis.
No final, sem uma mudança radical do sistema econômico, para modelos como economia donut, decrescimento ou pós-crescimento, as chances de resolvermos essa crise são ínfimas.
Como diz Naomi Klein, em "Tudo pode mudar", o motivo de o negacionismo climático ser tão forte e bem organizado é porque as corporações por trás disso perceberam: não há como lidar com o aquecimento global sem regular e restringir as indústrias. E parece que eles entenderam isso melhor até do que o restante da sociedade, incluindo muitos ambientalistas.
Aproveitando, confira a versão documentário de "Tudo pode mudar".
Da página Água, sua linda:
Combater a desinformação
Ainda sobre combustíveis fósseis, o Fakebook.eco esclareceu algumas das desinformações que circulam amplamente na mídia sobre gás natural:
E o Projeto Comprova analisou desinformações que estão circulando nas redes sociais sobre meio ambiente:
Por exemplo, o velho mito de que o Brasil é o país que mais preserva a natureza, ou de que é o que menos polui. É verdade que as hidrelétricas dão uma vantagem ao país no quesito geração de energia com baixa emissão. Mas elas estão muito longe de não impactar o meio ambiente. E mesmo assim, o Brasil ainda é o 6º país que mais emite gases do aquecimento.
Apelo da Amazônia aos presidentes
Leia a carta de Nemonte Nenquino aos presidentes dos países amazônicos:
Nemonte Nenquino mostra a contaminação por petróleo na Amazônia Equatoriana. Imagem: Mitch Anderson / Amazon Frontlines
Obrigado por compartilhar.
Enquanto predominar esse sistema que precisa do consumo crescente, não haverá como reverter o desastre climático. Infelizmente, as pessoas preferem ver o fim do mundo a ver o fim do capitalismo.