Imagem: Getty Images
Tenho escrito bastante aqui sobre a causa mais estrutural de nosso colapso ambiental: o dogma do crescimento econômico. Mas uma economia predatória também não deixa de ser sintoma de algo mais profundo: a visão de que somos separados da natureza, e até superiores.
Então, apesar de um novo sistema econômico ser crucial para nossa sobrevivência, se não houver uma mudança coletiva de mentalidade, desequilíbrios profundos desse tipo vão continuar irrompendo. Sobre isso, para assistir ou ler:
Palestra do TED: Uma economia saudável deve ser projetada para florescer e não inchar
Leia a Circular em sua caixa de entrada:
Colonialismo climático
Injustiça climática se refere ao fato de que quem mais sofre com as mudanças climáticas são os que NÃO causaram isso. Países ricos poluíram. Países pobres pagam a conta. Já ouvimos falar disso, mas os números de fato são chocantes:
Historicamente, os países mais ricos (Estados Unidos, Canadá, Europa, Austrália e Japão) são responsáveis por 92% das mudanças climáticas/aquecimento global. Países na América Latina, África e Oriente Médio — os que mais sofrem com isso — respondem por apenas 8% dos gases do efeito estufa (dados são citados por Jason Hickel, em "Less is More").
O colonialismo nunca acabou, apenas mudou de forma.
Emissões históricas de CO2. Gráfico do artigo
"What’s causing climate change, in 10 charts"
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EUA decidem o futuro
Em 3 de novembro, os colégios eleitorais nos EUA vão decidir o futuro de nossa civilização.
Devido ao consumo e produção de aquecimento global gigantescos dos estadunidenses, mais a insanidade de Trump, se ele se reeleger, evitar a catástrofe climática planetária se torna praticamente impossível, segundo um dos mais renomados climatologistas do mundo, Michael Mann, que não está sozinho.
Diversas personalidades e entidades que nunca apoiaram uma candidatura estão se mobilizando por Biden, apesar de ele não ter lá um perfil muito de salvador. Como a revista Scientific American, que nunca fez isso em 175 anos de história.
Imagem: Reprodução / The Guardian
Medo
A maioria das pessoas evita assuntos ou notícias muito depressivas. Esse é um dos motivos porque a mídia não noticia a gravidade e perigo extremos do atual colapso ambiental. Não dá audiência. Leitores evitam. Pessoas não comentam. Fica esse silêncio.
No entanto, algo talvez esteja mudando.
Por exemplo, o livro "A Terra Inabitável", de David Wallace Wells, se tornou um best-seller mundial exatamente pela honestidade brutal de sua narrativa. E o próprio autor, alguém que acordou tardiamente para a emergência climática, se sentiu vítima desse abafamento na mídia que evita a todo custo tons mais apocalípticos.
Cientistas mesmos faziam isso há uns cinco anos, para tentarem ser "mais objetivos" e "menos emotivos". Felizmente, hoje a ciência já acordou também para a necessidade de comunicar a realidade da crise ambiental como ela é.
Recentemente, a emissora inglesa BBC também se surpreendeu com o sucesso do documentário "Extinção: os fatos". Esperava-se que não haveria audiência, como é de costume em programas ambientais sobre colapso, mas foi justamente o contrário.
Escrevi também sobre a angústia ambiental e de como evitamos olhar isso de frente, por ser algo muito doloroso, no Ecoa.
Virar a cara não resolve
Tento manter certo otimismo aqui, exatamente para não deprimir muito as pessoas. Mas não dá para negar: sinais do desastre estão por toda parte:
CNN: Mundo corre o risco de se tornar um 'inferno inabitável' para milhões
Intercept: Fogo no Pantanal, rios secos no Paraguai: o colapso climático na América do Sul
UOL: Poluição do ar provocou a morte de quase 500 mil recém-nascidos em 2019
Guardian: Um quinto dos países sob risco de colapso dos ecossistemas (inglês)
Independent: Nível de CO2 na atmosfera é o mais alto desde surgimento dos humanos (inglês)
É por isso que estão crescendo os movimentos que começam a se preparar para o colapso das sociedades, como o da "Adaptação Profunda". Não se trata de desistir da humanidade, do ativismo e se esconder. No entanto, sendo realista com os fatos, com as chances que temos para evitar um colapso maior, considerando a inação não só dos governos e corporações, mas também das pessoas, é difícil não enxergar o óbvio: nossas chances são bem pequenas...
Pensando nisso, não faria algum sentido começar a se preparar para aquilo que tem maior probabilidade de acontecer? Não sei. O que você acha?
Fim do túnel
Pelo menos, sempre há alguma luz no fim do túnel. Como esse plano de como mitigar a atual extinção em massa:
O TED também lançou a campanha contra a emergência climática e ecológica Countdown. Apesar de o site estar em inglês, muitos dos vídeos tem opção de legendas em português, como esse: