Ambiente na mídia #7
Pequenas derrotas para indústria do aquecimento; Petrobrás como sempre; economia mais humana...
O nível dos danos que as mudanças climáticas estão causando é proporcional ao lucro das empresas de combustíveis fósseis, que estão entre as mais ricas do planeta. Imagem: Associated Press
Fora gases do aquecimento!
Continuam chegando algumas boas notícias para nós seres humanos que dependem de uma biosfera habitável, mas nem tão boas para a indústria dos combustíveis fósseis, empenhada em liberar mais gases do aquecimento global na atmosfera (escrevo aqui "gases do aquecimento" para enfatizar o que é isso).
O Google, por exemplo, anunciou que estará 100% livre dessa sujeira até 2030.
Outras empresas de tecnologia também anunciaram planos semelhantes, como o Facebook. Apesar de serem empresas intimamente ligadas ao negacionismo climático — já que direta ou indiretamente lucram com isso — pelo menos estão dando um certo exemplo de conduta. Como figuram entre as empresas mais admiradas do planeta, deve haver uma influência positiva.
(sobre Google & negacionismo climático, vale rever a piada de 1º de abril deste ano, em que a empresa precisou negar a boa notícia, de que não mais ajudaria o negacionismo: agreenergoogle.com)
Já a norte-americana BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, divulgou que vem penalizando empresas que não estão lidando de modo adequado com a emergência climática — entre elas as produtoras de petróleo ExxonMobil e Chevron, além de companhias automotivas e aerolíneas.
Parece que os constantes protestos contra a BlackRock, uma das grandes responsáveis pelos investimentos nos gases do aquecimento, vem surtindo algum efeito.
Além desses arranhões, os processos judiciais contra as petrolíferas também estão crescendo. Nos EUA, mais de 12 estados, condados e cidades estão processando na justiça essas empresas pelos danos que os combustíveis fósseis estão causando com as mudanças climáticas. O último estado a fazer isso foi Connecticut.
No entanto, infelizmente, isso está longe de ser um significativo enfraquecimento do setor de combustíveis fósseis, cujas empresas devem continuar entre as maiores do mundo ainda por muitos anos.
Imagem: Paulo Whitaker/Reuters
Já no Brasil
Inclusive, a 28º maior empresa do mundo é a Petrobrás, que segue contumaz em se recusar a investir um único centavo em energia renovável.
O Brasil é o 6º país que mais emite gases do aquecimento global. Mas como quase ninguém reclama, uma atitude dessas acaba sendo aceitável.
E se não fizermos nada, a situação brasileira deve piorar bastante, agora que foi aprovada a Nova Lei do Gás, que, liberando a exploração comercial para empresas privadas, vai aumentar drasticamente as emissões de metano, um gás entre 20 e 80 vezes mais potente para o efeito estufa do que o CO2.
Leia mais sobre a ameaça do gás nesta reportagem da National Geographic.
Leia esta Circular em sua caixa de entrada:
Por uma economia mais humana
"Você percebe que a conversa está mudando quando o decrescimento ganha cobertura positiva na Bloomberg".
Jason Hickel, autor do excelente livro sobre decrescimento "Less is More", no Twitter.
Decrescimento é um modelo econômico que busca reverter os danos ambientais provocados pela economia extrativista e predatória. Até em São Paulo essa conversa de uma economia mais humana está ressoando mais. Durante a Virada Sustentável, Kate Raworth, autora de "Economia Donut", debateu o futuro do capitalismo.
E mesmo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de SP) está promovendo um debate sobre economia circular.
Luz no fim do túnel
Mais interessante que a realidade paralela negacionista na conferência da ONU foi o anúncio da China, de que pretende zerar as emissões até 2060.
É um prazo bem tardio, já que a meta global estabelecida pela ONU é 2050.
Mas, levando em consideração que a China é o campeão absoluto em gases do aquecimento, emitindo quase o dobro do 2º lugar (EUA), isso acaba sendo uma notícia boa até.
Curiosamente, China e EUA também são os países líderes em energia renovável. Então, se Biden ganhar nos EUA, o cenário já fica menos apocalíptico.
Mais algumas boas notícias:
Articulação inédita quer tornar economia brasileira mais verde - Apesar dos interesses econômicos por trás dessa aliança entre ambientalistas e agronegócio, isso pelo menos demonstra novamente que o impossível passa a ser possível quando necessário.
Imagem: Shutterstock
Extinção em massa
A BBC lançou o documentário "Extinção: os fatos", apresentado pelo lendário documentarista David Attenborough. Imperdível. Assista aqui.
Sobre o avanço drástico da atual extinção em massa no planeta, veja também:
Estados fracassaram em preservar biodiversidade na década passada, diz ONU
Revelado mistério da morte de centenas de elefantes em Botsuana - E está ligado às mudanças climáticas.
Luis Fernando Veríssimo, elegantemente, também soltou o alerta:
É assim que acaba o mundo, não com um estouro, mas com o encontro das queimadas do Pantanal e da Califórnia sobre nossas cabeças, não com um gemido, mas com o contágio terminal de todos nós, não com uma revoada de diabos, como no Apocalipse, mas com uma praga de gafanhotos.
Não quero aumentar a aflição de ninguém, mas li que as baleias estão agindo de um modo estranho, nas costas da Espanha e de Portugal. As baleias estão atacando os barcos. Os pescadores nunca viram nada parecido.
Mais destruição
Mesmo quente, planeta seguirá existindo. A humanidade, não, diz cientista
Ricos emitem o dobro de CO2 que a metade mais pobre da população, aponta estudo
Silêncio climático
Mesmo em meio aos incêndios gigantescos, ondas de calor, céu de fim-do-mundo, morte de animais em massa etc nos EUA, a mídia continua sem noticiar as causas de tudo isso: mudanças climáticas & colapso ecológico, que nós mesmos provocamos e que, ao que tudo indica, vamos continuar fazendo.
Por exemplo, no noticiário das redes ABC, CBS e NBC, apenas 4% das notícias sobre os incêndios mencionaram as mudanças climáticas.
No Brasil a coisa não é tão diferente. Se considerássemos apenas o noticiário, teríamos a impressão (e muitos de fato têm) de que para acabar com toda essa destruição, bastaria mais bombeiros e fiscalização. Nas redes sociais, parece que se trocarmos o presidente, pronto! A emergência climática e ecológica se resolve. Obviamente que a atual administração é um desastre, mas infelizmente ele é apenas um sintoma.
E os combustíveis fósseis? E a sede insaciável por lucro das corporações aliadas aos governos (de esquerda também)? E o dogma do crescimento infinito da economia? E o nosso consumo?