Links: indígenas, Amazônia etc
Está na minha lista de leitura a última edição da revista Gama, sobre a Amazônia:
→ https://gamarevista.uol.com.br/capa/como-salvar-a-amazonia/
É uma pena que esse e outros temas ambientais estejam praticamente ausentes no debate para as eleições.
Ouvimos tanto falar em extinção que a palavra já passa direto sem registrar. Mas parando pra pensar, o que realmente significa espécies inteiras de seres vivos estarem desaparecendo para sempre da face da Terra?
Por exemplo, olhe essas fotografias (de um museu de espécies extintas):
→ https://www.theguardian.com/environment/gallery/2022/jun/06/extinct-and-endangered-species-in-pictures
É difícil manter o coração inteiro diante desses e muitos outros corpos de seres que foram varridos da existência.
Nesta semana, foi-se o último remanescente de toda uma cultura indígena da Amazônia.
→ https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2022/08/27/ultimo-sobrevivente-de-seu-povo-indio-do-buraco-e-encontrado-morto-em-rondonia.ghtml
Ele havia sobrevivia sozinho, depois que fazendeiros mataram os últimos membros de seu povo, em 1995.
Lembrei-me de um filme recente ótimo, bastante premiado, com roteiro do próprio Davi Kopenawa, que atua como ele mesmo em A Última Floresta. Dá para assitir neste link.
Livro: Ornamento da Liberação
Quando comecei a distinguir as primeiras frases em tibetano, há uns dez anos, o primeiro livro que peguei para tentar ler foi o Ornamento da Liberação Preciosa, de Gampopa. Não entedia quase nada, obviamente.
Anos depois, já conseguia ler, e imaginava que um dia iria traduzir esse livro em português, mais como um sonho distante.
Semana passada terminei a revisão e a tradução está pronta:
→ https://palpungsp.org/textos/material-para-download/#ornamento
Para budistas, a obra é uma verdadeira joia. Já para quem se interessa apenas por meditação ou por aspectos menos "espirituais" e mais "filosóficos" talvez não seja interessante.
Uma nova origem da humanidade
Eu já havia comentado sobre o último livro de David Graeber, O Despertar de Tudo, em uma coluna no Ecoa:
→ https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/mente-natural/2022/03/13/imaginar-outro-mundo-e-preciso.htm
Mas com o lançamento da tradução em português, o assunto do livro veio à tona, como nessa entrevista da Folha com o co-autor David Wengrow:
→ https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/08/humanos-estao-errados-sobre-a-historia-da-humanidade-aponta-livro.shtml
Basicamente, a tese do livro é que a história sobre a origem das sociedades que contamos é uma ficção (na verdade, uma narrativa ideológica). Essa farsa basicamente diz: sociedades primitivas podiam ser mais igualitárias porque eram pequenas, não havia agricultura (produção em massa de bens) nem complexidade política; o surgimento de grandes cidades necessariamente implica em desigualdade e exploração; portanto, a desigualdade e exploração atuais são naturais, fruto da evolução. Essa história é uma crença que está na base das crises atuais.
Mas as descobertas arqueológicas das últimas décadas provam que essa história não se sustenta. Por exemplo, existiram sim grandes cidades antigas igualitárias, assim como havia também exploração e dominação em pequenos grupos de nômades. Em resumo, não há uma direção pré-definida da igualdade em direção à desigualdade social. Como isso tudo são construções humanas, podemos sim criar algo completamente diferente do modelo atual.
David Graeber faleceu há alguns anos, precocemente. Foi uma perda e tanto para nossa necessária reinvenção social.
De onde vêm os pensamentos
Um livro ótimo que estou lendo é Hospicing Modernity, de Vanessa Machado de Oliveira, sobre a descolonização de nossas mentes. Esse é um assunto profundo que não vou tocar agora. Mas segue um trecho do livro que é pura espontaneidade e alegria. São as respostas de crianças de cinco anos para a pergunta: "De onde vêm os pensamentos?"
“De onde você acha que seus pensamentos vêm?” Suas respostas foram profundas e hilárias. Uma criança começou dizendo que seus pensamentos vinham da barriga, principalmente na hora do almoço. Outro disse que os pensamentos são uma mistura de sonhos que temos quando dormimos e conversas que temos com nós mesmos quando estamos acordados. Para outra criança, muitos pensamentos vieram de desenhos de TV, alguns de seu cachorro, mas ela também suspeitava que sua mãe tivesse algo a ver com isso. Uma criança disse que os pensamentos podem vir de muitos lugares diferentes, incluindo coisas das quais temos medo. Outra disse que dependia da hora do dia e do que estava acontecendo dentro do seu coração. Nesse momento, uma criança perguntou às outras: quantos pensamentos temos todos os dias? A primeira resposta foi que tínhamos apenas um pensamento longo, sinuoso, viscoso, mas peludo – como um cruzamento entre uma lesma, uma cobra e uma lagarta. Outra resposta foi que os pensamentos eram como a chuva, criando poças de lama para nos molharmos. Isso foi seguido por um comentário de que os melhores pensamentos pareciam brincar ao sol na primavera, logo após a chuva.