Talvez você seja anarquista e não saiba
Um trecho da coluna no Ecoa UOL:
Imagino que temos o potencial sim para viver com base em valores como ajuda mútua, proteção recíproca e compaixão desinteressada; não apenas entre nós humanos, mas com toda a vida. Não precisamos de estruturas de poder ultraconcentradas definindo o que desejamos, consumimos e até como pensamos. Poderíamos nos alinhar com a própria auto-organização da vida ou natureza no modo como existimos neste planeta.
Esse tipo de harmonia fundamentalmente está na base de um sonho mais proibido até do que o anticapitalismo: o anarquismo. Afinal, as imagens que vêm automaticamente à mente com o mero som da palavra “anarquia” são de arruaceiros de balaclava estourando vidraças. É a isso que me refiro, por exemplo, quando digo que sofremos de uma pobreza imposta de imaginação.
Essencialmente, “anarquia” é a ancestral ideia de que não precisamos de hierarquias de poder, mas temos a capacidade de construir algo belo e próspero com base em nossas próprias capacidades e aspirações mais íntimas, de modo harmônico.
“Mas como isso poderia dar certo? Há algum exemplo que tenha funcionado?”
Sim, há um grande exemplo ao qual nos cegamos: a própria natureza, como diria Kropotkin. Na natureza, não há chefes, nem exploração e dominação. Há apenas a expressão pura e auto-organizada da vida em múltiplas formas e interconexões essencialmente harmônicas — apesar de que ultimamente isso esteja sendo amputado.