Terra devastada
Um trecho do artigo “The World of Wonder”, de Thomas Berry, presente na coletânea de ensaios “Spiritual Ecology”:
“… Havia outros rituais em que comunidades humanas se validavam em cerimônias de oferenda em que as diversas forças eram reconhecidas de acordo a estação, em que o Sol, a Terra, os ventos, águas, árvores e animais, um de cada vez, recebiam expressões de gratidão pela generosidade que tornara a vida possível. Claramente, esses povos veem algo diferente do que nós vemos.
Nós perdemos a conexão com essa outra realidade mais profunda das coisas. Consequentemente, agora nos encontramos em um continente devastado, onde nada tem espírito, nada é sagrado. Não temos mais um mundo com valor inerente, um mundo de maravilhamento, intocado, intacto, inexplorado. Usamos tudo. Ao “desenvolver” o planeta, conseguimos reduzir a Terra para um novo tipo de esterilidade.
Cientistas estão nos dizendo que estamos no meio do sexto período de extinção na história da Terra. Nunca uma extinção assim ocorreu desde a época dos dinossauros, há uns 65 milhões de anos.
Agora há uma única questão diante de nós: sobrevivência. Não apenas sobrevivência física, mas sobrevivência em um mundo satisfatório, sobrevivência em um mundo vivo, onde as violetas florescem na primavera, onde as estrelas nos banham com seu brilho carregado de mistério, sobrevivência em um mundo com sentido.
Todos os outros assuntos se apequenam em comparação — seja sobre lei, governo, religião, educação, economia, medicina, ciência ou artes. Essas áreas estão todas em convulsão porque dizemos a nós mesmos: “Nós sabemos! Nós compreendemos! Nós vemos!” Na verdade, o que vemos — assim como nossos antepassados viram nesta terra — é um continente disponível para exploração.”